Notas
Folheto do filme "Torres" de Zequinha Picoral para exibição no Cine-Theatro Palácio.
"O documentário “Torres”, de José Picoral (1927), é um dos tesouros perdidos do cinema brasileiro. Este média-metragem sobre a praia de Torres, no litoral gaúcho, já foi apontado como um dos possíveis primeiros filmes da história do cinema a retratar o trabalho braçal do homem (no caso, pescadores em atividade no alto mar), pois sua realização antecede o clássico “Drifters”, realizado em 1929 pelo inglês John Grierson, considerado por historiadores como o primeiro documentário a abordar o tema.
O folheto de divulgação em anexo é um raríssimo documento sobre o filme que conseguiu sobreviver. Foi a primeira doação (feita pelo crítico de cinema Hélio Nascimento, do “Jornal do Comércio”) ao Centro de Documentação e Memória da Cinemateca Capitólio após a sua inauguração, em março de 2015.
Em entrevista recente publicada em seu site “Escrita Crítica”, a jornalista, pesquisadora e crítica de cinema Fatimarlei Lunardelli conversa com Hélio Nascimento sobre “Torres”: “Quando começou a trabalhar no “Jornal do Comércio” Hélio conheceu Picoral, que tinha alcançado notável reconhecimento com sua obra realizada
em 1927 para divulgar a praia e o balneário onde seu pai José Antônio Picoral havia fundado, em 1915, o Balneário Picoral, tornando-se pioneiro do turismo. O documentário é considerado o filme de publicidade turística mais antigo do estado. Hélio nos conta que o referido filme havia sido exibido a Paulo Emílio Salles Gomes, mentor da Cinemateca Brasileira que vinha com frequência para atividades cinematográficas em Porto Alegre. O crítico paulista ficou entusiasmadíssimo porque o filme de Picoral tinha o pioneirismo de cenas filmadas em alto-mar, mostrando pescadores em suas lides. Paulo Emílio assegurou que eram imagens anteriores às inovações introduzidas pela escola documentarista inglesa fundada por John Grierson e levou a cópia para depósito na Cinemateca Brasileira. O nitrato do qual eram feitas as películas entrava com facilidade em combustão com o aumento do calor e num dos incêndios da Cinemateca o filme foi destruído.
Foi uma lástima, pois não havia mais negativo de “Torres”, esse já tinha se perdido na Alemanha, nos escombros da Segunda Guerra. Sendo neto de imigrante alemão que havia chegado ao estado no início do século, José Antônio Picoral Júnior teve a oportunidade de visitar a terra dos ancestrais a convite da embaixada alemã. Foi uma viagem extraordinária que incluiu um encontro com Hitler, apresentação de seu filme e depósito em acervo fílmico posteriormente destruído nos bombardeios da guerra. Picoral contou essas histórias ao jovem crítico e lhe deu o cartaz original do filme do qual nada mais restava. Hélio depositou esse precioso documento recentemente na Cinemateca Capitólio”. (A entrevista completa está em https://escrita.art.br/conversa-com-helio-nascimento/ ).
(fonte Cinemateca Capitólio)